segunda-feira, 6 de julho de 2009

85 anos de vida...

Hoje foi o aniversário da Dona Miria. Bem esse não é mesmo o nome dela, mas não é isso que interessa. Ela me é muito querida , e isto basta.
Engraçado, como eu passei os últimos cinco ou seis anos brigando com ela quase que diariamente. Brigas nunca são engraçadas, o que me espanta é que eu sinta saudades das discussões. Mas essa saudade tá aparecendo porque a gente sente que ela tá indo...
Ah Dona Miria, tem doído muito ver a mulher que ajudou a me criar sumindo, se esvaindo, ficando com olhar cada vez mais distante e perdido; logo ela, sempre tão cheia de vida: "vou dar uma saidinha pra comprar umas coisinhas..." e lá ia minha doce encrenqueira, de passos curtos e rápidos, às vezes firme, às vezes vacilantes (nesses últimos anos), em direção ao ponto de ônibus para dar sua "voltinha a pé" na famigerada rua 25 de Março, no centro de São Paulo... Sempre vestida com suas roupas ajustadas (fácil pra ela, afinal sempre foi muito habilidosa na costura), agarrada a sua bolsa, às vezes nos assustando com o horário que chegava em casa, afinal sempre encontrava alguém no caminho para papear e acabava por esquecer da vida!
Ah Miria, foi ela que me levou pra conhecer um sítio de verdade, andar a cavalo, tocar boiada, moer cana pro gado, conversar na calçada e passear na praça do coreto a noite...
Essa outra Miria que agora eu vejo não me traz à lembrança aquela que conheci quando moleque; aquela que, por vezes era obrigada a levantar o chinelo, e que a gente fazia malcriações; aquela que mesmo sem saber ler e escrever corretamente o "purtugueis", se dispunha a assinar meus boletins com notas baixas e acobertar meus erros; aquela que naquelas fantásticas tardes da minha infância fazia aqueles bolinhos de chuva maravilhosos, e nos deixava comer tudo sem dó! Ah Miria, que me levou tantas vezes á pé até o centro de São Paulo, me ajudou a comprar(na verdade me deu de presente) meu primeiro par de tênis sem meus pais - Adidas, diga-se de passagem -, comprou comigo o primeiro boné que me recordo (um bone nylon de estampa camuflada) e fez a minha primeira jaqueta jeans...
Ah Miria, lembro de quando me guiou em minha primeira viagem em que fui o motorista do carro, e me apresentou a cidade em que conheceu o Seu Zé Pedro, seu marido, o homem de sua vida!
E nesses últimos anos, apesar de todas as discussões que tivemos foi a nossa melhor amiga, aquela que se dispunha a olhar meus filhos mesmo já não tendo toda aquela disposição de muito anos atrás... Não há como agradecer, não há uma quantidade suficiente de obrigados pra te dar, Dona Miria!
Tudo que posso passar, nesse momento, é que te amo muito vó, minha vó, minha querida companheira, minha professora de costura, minha cicerone do centro de São Paulo, minha segunda Mãe, minha querida amiga!
Não quero parecer piegas, pois já estou digitando com os olhos rasos dágua, por isso, agora quando vejo teus olhos distantes e tristes, quase não reconheço minha querida vó, nossa sempre querida, Vó Maria. Muito Obrigado Vovó, por tudo que pudemos aprender.

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